domingo, 31 de maio de 2009

A morena dos olhos verdes e mechas douradas.

Hoje, percebe-se muito bem o crescimento do setor imobiliário no país, apesar da crise que assola o mundo globalizado. Quem consegue perceber isso bem são aqueles que faturaram uma grana preta vendendo seus terrenos, ou moram ao lado de construções –que é meu caso.


Pra vocês terem ideia, na minha rua foram e estão sendo construídos cerca de 7 novos edifícios. A tendência é esse número aumentar. E muito.

Antes desses edifícios, todo dia eu via a morena dos olhos verdes e mechas douradas passar na minha rua. Ela nunca sorriu pra mim, porém eu me transformava num enorme sorriso toda vez que a via.

A morena dos olhos verdes e mechas douradas, na verdade, planava pela calçada desnivelada e esburacada. Não havia um carro que não prestasse atenção em seus cabelos aos ventos, suas mãos tão pequeninas, suas curvas tão belas, suas covinhas tão vermelhas e sua estatura de mocinha; tudo isso ao sabor da contemplação e inveja alheia.

Os meninos da minha rua suplicavam e choravam por seu amor, e ela sempre dizia a mesma coisa, Não! Nenhum homem merece meu amor!

Acho que ela era especial por isso, pois ninguém conseguia faze-la de “peguete”. Ela era demais. Um anjo que veio me dar uma razão pra viver. Única. Eterna.

Com o tempo, o primeiro edifício ficou pronto e a menina dos olhos verdes arranjou um namorado. Era forte, ia pra academia todo dia, se gabava pelo que tinha, roupas de marca, a moto Kawasaki Ninja, a cobertura; saía sempre com os amigos pras raves e baladas, não ligava pra estudo, pois bastava ser como o pai: político. Era o par perfeito pra ela; afinal, os opostos se atraem.

Mais tarde, outro edifício ficou completo. Ela descobriu que o namorado a tinha traído com “uma outra vagabunda aí qualquer”. Pensou em terminar com ele. Se interessara por um carinha da Tijuca.

Com o terceiro, descobriu que estava grávida. Três meses. Deve ter sido numa balada aí da vida. Ela não tinha certeza de quem poderia ser o pai. O namorado não quis saber dela e do feto, terminou o namoro alegando que não ia dar uma de corno assumido. Ele podia ser burro, mas era esperto. Sua mãe defendeu que ela devia continuar com o bebê. O pai é interrompido durante o trabalho pela mãe e dá a sua opinião: “hmmm, faça isso, querida”. Está ocupado demais com os relatórios da empresa. Sempre.

Um novo edifício surgiu no horizonte, tampando o por-do-sol. A morena perdeu a mãe num assalto. E o pai, que vivia traindo a esposa nas viagens empresariais, entrou em depressão.

Antes de completar o quinto edifício, a menina olha pro horizonte pela varanda do apartamento. As estrelas, que antes coloriam o céu, passaram a dividir o lugar com as centenas de luzes dos outros apartamentos. Decepcionada com a vida, ela resolve bater as asas e fugir pra bem longe.

Dessa maneira, com o prédios, os carros, ônibus, motos, o sol, necessário para sarar as feridas, tanto da carne quanto da alma, foi tampado de vez. A minha rua passou a parecer um filme em preto e branco.

E a morena era o meu sol. Era a fuga das minhas frustrações. Apesar dos engarrafamentos, da poeira, da fumaça, das buzinas e das obras, tudo ficaria bucólico se ela estivesse aqui. Ela me deixou com uma ferida enorme no coração. Só ela poderia cicatriza-la...

Apesar disso, o show tem que continuar. Todas as noites, mesmo com vários prédios, eu ainda consigo ver um pedaço do céu. E lá eu fico até o sono me chamar, numa árdua, porém digna, missão: achar a minha morena dos olhos verdes e mechas douradas. Não posso vacilar a nenhum instante, pois, num pisque, ela pode passar e eu perdê-la de novo. Um dia eu a acho, tenho certeza. E ela irá sorrir pra mim.



***
Pessoal, semana que vem eu termino a crônica Trabalho da Facul. Faltou-me inspiração. I'm Sorry.
Ah, passarei a postar uma crônica todos os domingos. Motivo? Faculdade. Abçs !

10 comentários:

Anônimo disse...

Bela história Diego, boa msmo

mari disse...

que bonitinho.

Cássia disse...

Eu li pensando que era a continuação do da faculdade, vc me enganou! Nunca mais fale comigo, Diego! ;P
Eu gostei desse texto. É triste, mas eu gostei. E sobre o da faculdade: um dia a gente acostuma a ler com barulho e qualquer coisa que atrapalhe xD

Beijo

Anônimo disse...

Que triste... E sobre o da faculdade: estudar num lugar onde tem transito e shopping... dá nisso!!! bjs hn

James Almeida disse...

Mais uma vez, se superando nas crônicas. :P

Abraço.

Paulo D'Auria disse...

Diego,

Muito bom, ao invés de apenas descrever a ocupação imobiliária, mostrou o lado humano da descaracterização de um bairro.
No bairro onde moro, Freguesia, e também no bairro onde trabalho, Pompéia, muitas e muitas morenas de olhos claros e mechas nos cabelos, e com elas nossos pedacinhos de céu, têm se perdido

PS.: obrigado pelo comentário tão simpático nos Poetas do Tietê.

Caranguejunior disse...

Caro Diego...
achei muito boa essa crôniCidade , essas morenas dos olhos verdes (e não verdes tbm)nos deixam assim...
'' toda gata deveria virar freira, ou se não, usar corrente e coleira...'')

obrigado pelo comentário...
postado hoje!
abraço!

Roberta Migueis disse...

e quantas morenas há por aí? e ninguém sabe delas e elas não sabem dos seus admiradores... e o mundo continua,implacável.


pelo menos aqui em casa ainda chega um ventinho frio,desses que te arrepia e te deixa com vontade de se aninhar no colo de alguém,com chocolate quente e muitos sonhos.


perca até sua morena,mas não deixe escapar seus sonhos. quem sabe ela não volta,atraída por eles?


(ok,devo ter feito fermentação alcóolica antes de responder,mistérios da fisiologia)

Anônimo disse...

Diego, ótima crônica... Você escreve muito bem... Parabéns...
Esta crônica é tipo assim, de auto-ajuda, que nos diz para nunca desistir, nem mesmo por um mero segundo...

Bom, infelizmente esta crônica foi postada no mês de MAIO... E o selo do mês de maio já foi entregue...

O próximo selo será do mês de JUNHO... Portando a crônica ou texto deve ser postado neste mês para poder concorrer...

Você tem ate o dia 30/06/2009

Qualquer duvida me procure...

Grande Abraço!

Vanessa Anacleto disse...

Lindo texto, Diego, vou abrir a Cronica dos outros com ela, ok? Publicarei nesta quinta feira.

Abraço e muito obrigada!