quinta-feira, 8 de setembro de 2011

(sem título)

Estou presa. Porém, a pena durará somente 1 hora. Do posto 13 até o centro de Nova Iguaçu, deu tempo pra ler um pouco daquele artigo que eu sempre deixava pra depois. 1 ponto antes do meu, fui até a cabine do motorista jogar conversa fora, estilo esses barzinhos furreca. Antes de chegar, uma freada brusca; o piloto quase atropelou um motoqueiro que furara o sinal.

- Esses caras pedem pra cair da moto, né? – dei a partida.
- É verdade! E você sabia que uma matéria da RECORD disse que, na maioria dos casos de acidente, a culpa é do motoqueiro? E olha esses moto-táxi; eles nem respeitam a vida dos seus clientes! Vivem furando sinal, não tem capacete pros clientes e blá blá blá, pereré pão-doce...

Mesmo quando não estou a fim de conversar, meu espírito investigativo adora incitar os outros a falar, a dar sua opinião. Posso até não prestar atenção, mas não consigo evitar... eu tenho mesmo talento pra ser professora!

- Aí meu ponto! Me deixa aew, motor!

Estou cansada. Desci do ônibus, atravessei o sinal e fiquei atônita: saltei mesmo no meu ponto? Quantos carros buzinando, quantas motos fatiando os míseros espaços que restavam, quantas pessoas andando e tropeçando nas outras! Faço o mesmo caminho de sempre, mas não acho meu lugar nessa muvuca! É as calçadas tomadas de camelôs e pontos de ônibus com filas pra duas viagens, é nós andando na rua e atravessando no lugar errado, é as motos que ameaçam a gente, surgindo do nada, é os carros e ônibus que parecem estar colados com superbondi... estou realmente em casa?

Estou perdida. Esse lugar não é aquele dos meus tempos de garota! A rua de casa está cheia de boêmios, murmurando qualquer coisa, como se estivessem tentando cantar! São acompanhados pelas buzinas dos automóveis, que mais parecem estar no mar que no asfalto, e por pedintes e pivetes que participam da festa! Ó odiável festa, que barulheira, que estranheza! Sinto ser esfaqueada, mas não há ninguém capaz de cometer tamanha covardia! Ou há?

Estou assustada. Não sei o que fazer, não consigo achar minha casa! Olho pro alto e só vejo prédios gigantes, imponentes, que belos seriam, se combinassem uns com os outros! O que vou fazer? O dia vomitou a noite, e agora eu preciso correr atrás de um abrigo; mas não há onde se esconder das fobias! Cadê minha casa? Tudo mudou tão depressa! Vai ver que a derrubaram, minha história, minha vida, e colocaram um prédio de 25 andares no lugar! Tudo tão rápido, tão rápido que eu não pude acompanhar! Socorro, manhêêê, to com medo!

- Filha, chegou mais cedo que o normal hoje! O que a fez pegar a hora do rush?
- Ahhh... o professor não foi à aula! Aí eu voltei mais cedo!
- Que maravilha! É bom ter você aqui em casa, querida! Entre, estava pra encomendar seu bolo!
- Também te amo, mãe!

Estou velha. E só fiz 20 anos.

Um comentário:

Joy disse...

Nossa! Meio confuso, hein?!
Mas gostei.

Nesse mundo de coisas correndo, multifuncionalidades e montes de coisas ao mesmo tempo onde tudo passa tão rápido a gente acaba se perdendo e perdendo as mudanças. Só percebemos depois de feitas.
E a gente parece tão vivido e cansado de tantas coisas...


bjo