domingo, 24 de maio de 2009

Trabalho da facul I




“Cadê o ônibus? Já tô aqui a meia hora e essa bagaça não vem!”

Estava muito nervoso. Tinha que chegar a tempo na facul. Meu grupo era o primeiro a se apresentar. E ainda tinha que gravar minha parte. Tinha uma hora e meia pra chegar em Botafogo. Ainda estava em Nova Iguaçu.

 

“Graças a Deus! Hare Krishna !”
 

O ônibus, apesar dos buracos, dobrava triunfalmente pela esquina. Paguei a integração, sentei no fundo. Ônibus de janelas fechadas. Cara, se tem uma coisa que eu adoro é ar. Que maravilha é ar-condicionado! Clima de serra!
 

As pessoas entram, mas não sorriem como eu. Mau-humor? Cansaço? Aquele lá parece que acabou de ser despedido. Aquela, que descobriu o marido na cama com a melhor amiga e matou os dois. Meu, sei lá, não ficarei criando hipóteses! Tenho que gravar a minha parte!
 

O ônibus parte. Começo a gravar o texto:
 

“Liderados por Lênin e Trotsky, os bolcheviques, a partir das Teses de Abril, conseguir...”
 

As luzes começam a piscar. Puta que pariu, que merda! Parece vagalume, mas um milhão deles piscando o rabo pros outros! Não me leve a mal, é a ansiedade.
 

Elas ficam quietas. Ehh, vou continuar! Nada irá me impedir de...
 

“(Salgueiro é o caldeirão, salgueiro é o caldeirão, salgueiro é o caldeirão ♪ ♫)∞”
 

Tem alguém querendo me sacanear. Todos sabem que eu odeio Funk! Já percebi que há uma conspiração universal contra mim! Não querem que eu apresente o trabalho, mas eu sou guerreiro, não desisto nunca!
 

“Ei, mermão, alguém te perguntou se quer ouvir essa tua bosta de barulho?”
“Pô, brother, mal aí, patrão, vou ouvir no fone de ouvido, beleza?”
“Mal aí nada, vocês funkeiros tem que aprender que nem todos gostam de suas músicas! Além disso, é horrível tentar dormir com o barulho que sai de seus chevettes, sabia?”
“Pô, chefia, desculpa aí, estou decepcionado e...
“E saia desse ônibus agora! AGORA!
“Tá bom, snif, tá bom, tô saindo, ô motor, vou saltar aqui mesmo...”
 

Todos no ônibus me aplaudem de pé. Sou demais, impus moral na banca! Eu sou o poderoso chefão dos ônibus da Baixada! Os gordos mandam! E o otário musculoso peidou pra mim! Saiu cabisbaixo que nem uma...
 

“Como é que é playboy?”
“Eh, bem, pô, bota um pagodinho aí pra gente ouvir, que tal?”
“Quero ouvir Funk! Algum pobrema?”
“Não, nenhum, brother, bota aí no volume máximo, adoro subir o morro, sabe, ir nesses bailes undergrounds, rss”
 

O funkeiro virou-se pra frente. E aumentou o som.
 

Eu podia listar os problemas. Falar desde a alienação das pessoas até o fato de ter que me concentrar pro trabalho da facul. Mas deixei pra lá. Afinal, o cara não parecia estar no seu dia. Se brigasse, iria perder tempo pra gravar o texto. Tá bom, é verdade, eu sou covarde, sou um peidão! Mas que seja, tenho que gravar essa bodega já!
 

Tentei me concentrar, mas não dava. As letras, as palavras, os sinais, tudo parecia fugir do papel.
 

A vista não estava tão bonita lá fora. A vista da Via Light está mais pra favela plana do que pra Corcovado. São apenas casas mal-acabadas, com as ruas feitas de terra batida. Alguns lutando pra sair de lá. E a maioria está passiva em relação a realidade, rodando em seus chevettes e tocando proibidões no volume máximo...
 

De repente uma mulher senta do meu lado. Maluco, que mulher gata! Muito gostosa e tal, parecia uma deusa! Olhos azuis, cabelo louro, um anjo! Podíamos namorar, nos casar, ter muitos filhos e, ei! A quem eu quero enganar! Nem me dar ela vai querer! Provavelmente daria pro cara do Funk. Forte, alto, negão. Pra que sonhar? Pra sofrer, só se for! Ela não me conhece e jamais me conhecerá a não ser pela imagem de um gordo que não consegue gravar seu texto e se ferrará no trabalho de economia da faculdade. Ah, o trabalho!!
 

Olhos fixos no papel. Nenhuma letra foge da minha vista. Mesmo com o funkeiro, a mulher, a vista e o restante do mundo, nada me faria perder uma palavra. Estou concentrado! Vou conseguir!
 

Todos se levantam. O que aconteceu? Ah, estamos chegando na Pavuna. Este lugar é engraçado. Nos mapas pertence à cidade do Rio de Janeiro. Porém, mais parece um bairro de Belford Roxo.
 

O ônibus para. Todos saem rumo ao metrô. Lá vou eu, ainda tenho uma hora pra gravar o texto. Acho que consigo.

Continua...

6 comentários:

Leandro Lima disse...

KkkKK Depois da sua definição de My Space quase perdi as esperanças de abrir um... ainda fico famoso o/

"Cuidado... isso não é uma democracia..."

E aiii Conseguiu gravar o texto!?
E falando em texto que texto longo... ¬¬'

Tava ouvindo um podcast tive que ler umas três vezes o texto... KkkKkK

E você fez isso de verdade com o funkeiro?!

Abraços!

Aninha disse...

Esses funkeiros são totalmente sem noção... Mas tb os roqueiros, os pagodeiros...

Ninguém é obrigado a ouvir a música de ngm, né???

E o texto, deu certo???
E a deusa do seu lado, nem um oi??? Rsss

Bjks

Joy disse...

haushuashuashu!!!
Funkeiro é mesmo o Ó...
eu lembro de quando estudei essas coisas de Trotsky, passei um fim de semana tentando decorar tudo, mas eu gostava das coisas da Rússia, ou melhor, gosto de História.

bjs

Leandro Lima disse...

KkkkKkKk
Vo guardar essa história sua para fazer um roteiro =P
Coloco até os créditos pra você...
AHuahuahuahuahua
e a continuação...!?

Abração!

Aninha disse...

Obrigada pela visita =)

E vamos dessamarrar isso aki tb, heim??? Rsss

Cade as atualizacoes??? Rsss

Bjks

Roberta Migueis disse...

e no fim, tudo o que precisávamos era pagar uma cerveja pro Bené que ficava tudo bem...


(apesar da minha TOTAL falta de tempo,eu costumo passar por aqui, é bom saber que eu não sou a única "anormal" =D )